domingo, 29 de agosto de 2010

Composição Musical - Parte 4 (por Flávio Lima)

Integração Entre Letra E Melodia

Neste artigo discutiremos alguns “mistérios” relacionados ao encaixe entre a letra (poesia, parte escrita da música) e a melodia (a música propriamente dita) no âmbito das canções populares. Nos três artigos anteriores discutimos generalidades sobre composição musical, como ter mais inspiração e como guardar e registrar adequadamente estas idéias.Como já falamos anteriormente, a primeira necessidade é ter paciência com a música que se está compondo no momento. Podemos pensar, no começo do processo de composição, que a música está ruim e que o melhor é jogar o rascunho da letra fora ou esquecer a melodia. Nesta fase a letra pode estar rudimentar, às vezes as frases ainda estão sendo encaixadas e elaboradas; o assunto pode ainda estar sendo construído. É aí o ponto crítico, onde ou desistimos da canção ou continuamos e temos sucesso. Sugerimos a você que tente mais um pouco.

Se você começou a compor com a letra primeiro, sabemos que as palavras ou mesmo frases inteiras podem sugerir uma melodia, pela sua musicalidade própria. Um exercício legal para trabalhar a percepção e a sensibilidade é ler poesia e prestar atenção na musicalidade das palavras. Quando lemos em voz alta a palavra “violão” a sensação é diferente de quando lemos a palavra “maçã”. Pode ser que você não concorde, mas acho a palavra “violão” mais séria, mais grave e pesada do que a palavra “maçã”. Perceba que a sensação que uma palavra causa pode estar ligada à sua sonoridade (musicalidade), ao seu significado ou ao contexto da frase ou trecho da letra onde ela vai estar encaixada.

Essa percepção é interessante, já que esse “humor” das palavras e frases pode sugerir melodias ao compositor. Após um certo tempo, nossa percepção começa a se abrir para essa habilidade, que acredito que está em todos nós em maior ou menor grau. Com um pouco de treino a facilidade virá naturalmente. Caso você ache que uma determinada letra é um pouco triste e queira torná-la mais alegre sem modificá-la, é possível construir uma melodia alegre para ela. O resultado será uma canção moderada que transmitirá a mensagem com um tema dramático mas que não terá um efeito tão depressivo sobre o ouvinte. O oposto também pode ser verdadeiro, sem dúvida alguma.
Noutras ocasiões, a letra vai sugerir uma linha melódica mais alegre, ou com um andamento mais rápido (música rock, balada mais acelerada) ou dançante. Outras vezes, se você começar pela linha melódica pode surgir uma frase inteira que se encaixe diretamente num trecho melódico com muita facilidade. É essa frase inicial completa (com letra e melodia devidamente encaixadas) que às vezes determina o desenvolvimento e o desfecho da música, que às vezes necessita de um pouco mais de esforço para ser completada.

É possível que o ritmo e o instrumento musical onde você está compondo a canção influenciem o resultado final. Esteja sempre aberto a modificações de ritmo e testes variados. Uma música pode começar com uma melodia lenta, mas pode ser necessário acelerá-la (o que vai determinar isso é o seu senso crítico, você tem às vezes que saber o que a música está “pedindo”). Sim, às vezes uma canção é tão forte e expressiva que ela adquire vida própria realmente, ela passa a “pedir” para ser mais rápida, ou mais dançante ou para ter mais ou menos letra. Para outras, por outro lado, será preciso um esforço maior. É possível você fazer uma letra enorme e depois perceber que fica melhor cortar dois terços do que você escreveu, preenchendo o tempo de música com repetições de trechos. Noutras vezes, a letra da música flui com frases que não se repetem, sem refrões nem rimas, como a canção “Faroeste Caboclo” da banda Legião Urbana. Algumas letras da banda alagoana Mopho são bastante simples e revelam brincadeiras surrealistas com a letra (“Uma leitura mineral incrível”), onde o destaque pode estar na ênfase de determinadas sílabas, que são prolongadas ou encurtadas propositadamente para realçar a canção.

Outra dica interessante, principalmente quando se está começando a compor (e quando não se tem uma letra) é ficar testando acordes no violão, até você encontrar uma seqüência interessante de dois ou três acordes. Encontrou uma seqüência legal? Então passe a cantar algo, mesmo que seja sem sentido, sempre procurando a “voz” ou as “vozes” do acorde ou da seqüência de acordes. Se você encontrar um fraseado vocal interessante, vai ser mais fácil começar a determinar uma letra para esse trecho.
 Se você só tem a letra completa mas não tem melodia, preste atenção nos inícios de frases (para determinar melodias) ou então nas partes que mais lhe chamarem a atenção. É bastante provável que estas partes se tornem os refrões da música, que são os trechos com mais apelo e energia.

Tente compor nos estilos musicais que mais lhe agradam. Assim tudo será mais fácil e natural, com uma sensação de familiaridade, o que tornará o processo mais prazeroso. Nesse início também é interessante procurar imitar o estilo de compor de algum ídolo, mas lembre-se de que, mesmo que isso aconteça, com o desenvolvimento progressivo é natural que suas próprias características comecem a se definir e a se revelar em suas composições. A última dica (e não menos interessante) é procurar formar clubes de composição, seja em casa de amigos ou em bares e locais públicos para encontros semanais, onde vários compositores possam se encontrar, mostrar suas músicas uns aos outros e estabelecer um intercâmbio de idéias.

___________________________________________________
Retirado de: http://www.flaviolima.com/
Já que leu até aqui, comente!

Nenhum comentário:

Postar um comentário