domingo, 29 de agosto de 2010

Composição Musical - Parte 3 (por Flávio Lima)

Tendo Mais Inspiração

Não há dúvidas quanto ao fato de que a inspiração artística é um terreno pantanoso e percorrido por poucos aventureiros. Muitos pensam que, por ser algo subjetivo, não seja possível desenvolver a inspiração. É aí que muitos se enganam e perdem grandes oportunidades, que estão presentes em nosso dia-a-dia e (o mais importante de tudo) ao alcance de todos nós.
Podemos admitir que a inspiração é um grande “poço de idéias”. Quanto mais alimentarmos este “poço”, mais ele responderá às nossas solicitações e necessidades. A “quantidade” destas idéias é fundamental, mas a forma como elas se entrelaçarão (a “qualidade”) também será de extrema importância para o sucesso na atividade de composição musical. E para isso pode ser importante mudar certos conceitos de sua visão de mundo (falaremos sobre isso mais adiante).

Sendo assim, como poderemos alimentar nosso “poço de idéias”? As idéias podem nascer de fontes variadas, sejam elas estímulos sonoros, textuais (livros, histórias em quadrinhos, panfletos, revistas etc.), táteis, visuais, olfativos, emocionais, sensitivos e de vários outros tipos. Quando você lê um livro ou vê um programa de televisão, você entra em contato com valores que foram transmitidos por aquele veículo (sejam eles valores culturais, econômicos ou sociais). Alguns destes valores vão ficar profundamente gravados em sua mente, seja porque foi algo com que você se identificou de modo especial ou porque simplesmente determinado detalhe lhe chamou a atenção (o cenário de um programa de TV, por exemplo). Sendo assim, alguns fatos serão lembrados por você mais facilmente do que outros, quando você sentir necessidade. Por isso não despreze informações, procure absorver algo de tudo com que você entrar em contato.

A nossa percepção é uma das ferramentas mais importantes, estando diretamente relacionada à sensibilidade. Quando você visitar um restaurante, procure prestar atenção ao ambiente, à decoração, à iluminação e ao mobiliário. Quando ler um livro, procure visualizar em sua mente o que você estiver lendo (a formação de imagens mentais é um dos melhores treinos para a criatividade). Quando estiver ouvindo uma canção, procure prestar atenção em cada instrumento musical e nas diferenças de volume de cada um deles, bem como no entrelaçamento entre letra e melodia; tente definir o que aquela música desperta em você (calma, raiva), se ela se parece com algo que você já ouviu. Quando for apresentado a alguém, observe os detalhes da aparência e do comportamento dessa pessoa.

Vamos agora dar um exemplo bastante prático de como tudo isso vai ser útil para você. Digamos que você queira escrever uma letra para uma música que seja a narração de uma história, ao estilo “Faroeste Caboclo” (banda Legião Urbana), do tipo “Johnny be goode” (Chuck Berry) ou como “Marieta e eu” (do trabalho recente do alagoano Basílio Sé). Digamos que você queira criar um pesonagem para a história, onde sua aparência e comportamento serão descritos com detalhes. Por que não usar as características de alguém que lhe foi apresentado recentemente? É claro que na letra da música você vai colocar um nome diferente para o seu personagem, que não seja o da pessoa real.
Na canção “Supersonic”, da banda inglesa Oasis, o compositor cantou “... I know a girl called Elsa” (“... eu conheço uma garota chamada Elsa”). À primeira vista, é claro, você acredita que o compositor se refere a uma garota, mas na verdade Elsa era uma cadela que estava no estúdio na hora que a música estava sendo composta. O nome do animal é que foi o elemento de valor, o verdadeiro “X da questão”, justamente porque ajudou a rimar a letra. O que também quero deixar claro aqui é que você não deve se prender a nada, não crie regras onde elas não existem. Hoje você pode fazer uma letra que contenha rimas, amanhã ela pode não rimar. Certas letras contam histórias, outras não falam sobre nada especificamente (a beleza pode estar na musicalidade das palavras e no entrelaçamento com a melodia).

Gostaria de lembrar aqui a importância de anotar todas as idéias e gravar suas melodias, para acessar e desenvolver depois (tema do artigo anterior). Com relação a melodias, a dica mais importante é nunca menosprezar nenhuma idéia melódica que venha à sua mente. Uma pequena linha melódica de três notas (um “tan ran ran” qualquer) que apareça na sua cabeça (e você considere uma porcaria no inicio) pode vir a se tornar uma grande música. Pode parecer engraçado, mas se você está dedilhando o seu violão sentado no sofá e nenhuma idéia aparece, tente andar um pouco. Mesmo que seja andar em círculos ao redor de uma mesa, ou de uma mesa de centro. Logo após, volte a tocar o violão, ou o piano. Se não funcionar, vá dar uma volta fora de casa, volte em alguns minutos e pegue de novo o violão. É surpreendente, mas funciona (talvez porque o seu cérebro fique mais oxigenado, ou porque o movimento em círculos ajude a estimular a percepção sinestésica, gerando atividade cerebral). Lembre-se de que a reformulação de nossa visão de mundo e a disposição de aprender com todos à nossa volta são atitudes fundamentais para o desenvolvimento. É por meio disso que aprenderemos a combinar nossas idéias dos modos mais diversos possíveis, para que possamos enxergar maiores possibilidades em nosso caminho.

Por fim, não menospreze nada. Informações do cotidiano, conversas com amigos, idéias de letras e melodias, conhecer novas pessoas e lugares, tudo isso é muito importante para desenvolver sua percepção sensorial. Ah, tenha bastante cuidado com bebidas e, de preferência, não fume. Para criar, o cérebro é o seu principal instrumento e para isso ele precisa ser conservado da melhor forma possível (lembre-se de que não nascemos com estepe). O álcool, o fumo e outras drogas podem prejudicar irreversivelmente o desempenho cerebral!
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Retirado de: http://www.flaviolima.com/
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