domingo, 29 de agosto de 2010

Composição Musical - Parte 1 (por Flávio Lima)


Este é o primeiro artigo de uma série na qual transmitirei algumas dicas sobre composição de música popular. Não abordaremos nesses textos o uso de partituras e sim da música feita intuitivamente, com o ouvido. Toda a experiência aqui relatada é fruto de vivências pessoais, de informações coletadas em fontes diversas e da observação de aspectos e comportamentos referentes ao meu próprio processo criativo, informações estas que tenho imensa satisfação de compartilhar com todos os leitores.

Primeiramente, para fazer música não é preciso ter algum dom supremo ou ser favorecido pela natureza com habilidades especiais ou extraordinárias. Esses casos existem sim, mas acredito que na maioria das vezes são as pessoas esforçadas e decididas e com força de vontade que conseguem fazer alguma coisa, que transformam sonhos em realidade por meio de atitudes ousadas e realistas.

Alguns compositores populares começam com a letra, outros iniciam pela melodia e alguns fazem os dois ao mesmo tempo, não há regras definidas. Um mesmo compositor pode num determinado dia iniciar com a letra e, noutra oportunidade, pode começar pela melodia, dependendo do humor, da vontade e de outros fatores que interferem no processo criativo do compositor. Pense nisso: por onde você prefere começar uma composição, pela letra ou pela melodia? É famoso o caso da canção “Satisfaction”, composta por Mick Jagger e Keith Richards, dos Rolling Stones. O guitarrista Keith Richards estava dormindo próximo à sua guitarra e a um gravador, como de hábito. Às vezes ele gravava algumas coisas durante seus cochilos, até que um certo dia viu que um trecho de fita havia sido usado. Ao ouvir a fita, o guitarrista percebeu que havia criado um riff interessante tocado em sua guitarra, em meio a alguns roncos: havia acabado de nascer a melodia (com três simples notas musicais) de um dos maiores hinos do rock, de modo bastante espontâneo e natural. A letra foi acrescentada depois com contribuições de Mick Jagger.

Lembro de que comecei a ter vontade de compor toda vez que ouvia alguma canção agradável (e isso continua a acontecer até hoje); pensava com convicção que também era capaz de fazer uma boa canção, à minha maneira. Esse é o primeiro passo, acreditar na própria capacidade. Tenha a certeza de que existem pessoas por aí que compõem maravilhosamente, têm muitas músicas guardadas em fitas cassete, letras escritas em blocos de anotações, mas que não acreditam no poder de suas composições. Essas pessoas têm um certo receio de mostrar seus trabalhos e acabam sendo um obstáculo a si próprias. Devemos nutrir a convicção de que cada um de nós é especial, porque ninguém tem a mesma experiência de vida que o outro. É esta experiência pessoal que molda e interfere nas letras e melodias que são produzidas, definindo o estilo do artista e estabelecendo o seu diferencial com relação aos outros músicos.

É esta diferença pessoal que vai definir a carga emocional a ser incorporada em cada canção que tocamos, compomos ou cantamos. É bastante interessante e recompensador sabermos que Deus nos fez para sermos diferentes e singulares. Não há quem não se emocione com o tom dramático do canto das lavadeiras, com a voz rouca e “rocker” de John Lennon cantando os dramas de sua infância ou do timbre rústico e verdadeiro de Jacinto Silva, Tororó do Rojão e Jackson do Pandeiro ao abordarem as dores e alegrias do povo nordestino. Esses artistas realmente descobriram como expressar sua marca pessoal; no início podem até ter imitado seus ídolos, mas depois encontraram uma definição própria de trabalho. É esta certeza do caminho encontrado que vai conferir segurança e confiança ao artista. Sendo assim, não fique aí parado, comece já a conhecer suas influências, gostos, preferências e limites; fazendo isso regularmente, sua personalidade começará a aparecer de modo natural e progressivo.

Considere-se uma pessoa dotada de um potencial infinito, pronto a ser trabalhado e desenvolvido; nunca diga que jamais vai conseguir compor nada que valha a pena. Por outro lado, não acho saudável encarar seus grandes ídolos como seres de outra galáxia, agraciados com uma força criativa inacessível a nós, simples mortais. É importante considerarmos os cantores e compositores dos quais gostamos como bons pontos de partida, como elementos de orientação e referência ao longo da estrada. Nossos ídolos musicais foram e são pessoas iguais a nós, pertencentes a realidades econômicas, culturais e sociais mais ou menos semelhantes à nossa. Eles apenas concentraram suas energias para realizar seus sonhos e souberam aproveitar as oportunidades que tiveram.

Espero que este artigo tenha motivado você a descobrir o maravilhoso mundo da composição musical, nem que seja para tentar rabiscar alguma letra num guardanapo em mesa de bar. Nos próximos artigos, aprofundaremos o tema, abordando aspectos como: encaixe entre letra e melodia, quais temas escrever nas letras, ritmos, como ter inspiração para compor, mercado musical, divulgação e muito mais. Até a próxima!
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Retirado de: http://www.flaviolima.com/
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